sábado, 22 de janeiro de 2011

A tragédia do Rio de Janeiro e a comunicação

Pessoal, eu sei que todos estão de férias, aproveitando pra se divertir, mas devido aos últimos acontecimentos decidi fazer uma postagem relativa a problemas que discutimos em sala de aula. Nos últimos dias temos acompanhado, com ampla cobertura dos meios de comunicação, a tragédia na região serrana do Rio de Janeiro. Devido a grande ênfase dos meios de comunicação, que relatam que essa é a maior tragédia natural do país, fiquei bastante surpreso com a reportagem que li no último domingo sobre uma tragédia ocorrida no Brasil maior do que a observada na região serrana do Rio de Janeiro. Com base na Revista Brasileira de Geografia Física, fotos e reportagens da época, além de testemunhos de sobreviventes, tal matéria traz à tona um sério problema: Até que ponto a informação que recebemos é confiável?

Reportagem:
DOMINGO, 16 DE JANEIRO DE 2011
Maior tragédia do Brasil foi na Serra das Araras, em 1967, com cerca de 1700 mortos
Uma cruz de 10 metros na subida da Serra das Araras (Piraí-RJ), no local conhecido por Ponte Coberta, marca o início de um enorme cemitério construído pela natureza.

Lá estão cerca de 1.400 mortos (fora os mais de 300 corpos resgatados) vítimas de soterramento pelo temporal que atingiu a serra em janeiro de 1967.



Desabou: A Serra das Araras ficou “pelada” após tragédia de 1967

Foi a maior tragédia da história do país, superando o número de mortos da atual tragédia na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, hoje acima de 600.

No episódio da Serra das Araras, suas encostas praticamente sedissolveram em um diâmetro de 30 quilômetros. Rios de lama desceram a serra levando abaixo ônibus, caminhões e carros. A maioria dos veículos jamais foi encontrada. Uma ponte foi carregada pela avalanche. A Via Dutra ficou interditada por mais de três meses, nos dois sentidos.

A Revista Brasileira de Geografia Física publicou, em julho do ano passado, a lista das maiores catástrofes por deslizamento de terras ocorridos no país. O episódio da Serra das Araras, com seus 1700 mortos estimados, supera de longe qualquer outro acidente do gênero no país.


Arquivo



Caraguatatuba: As marcas dos deslizamentos no mesmo ano de 1967

Para se ter uma idéia do que ocorreu na Serra das Araras basta comparar os índices pluviométricos. A atual tragédia de Teresópolis ocorreu após um volume de chuvas de 140mm em 24 horas. Na Serra das Araras, em 1967, o volume de chuvas chegou a 275 mm em apenas três horas. Quase o dobro de água em um oitavo do tempo.


Mas o episódio da Serra das Araras parece ter sido apagado da memória do país e, especialmente, da imprensa.

O noticiário dos veículos de comunicação enfatiza que a tragédia da Região Serrana do Rio superou o desastre de Caraguatatuba em março de 1967 (ver abaixo). O caso da Serra das Araras, ocorrido em janeiro daquele mesmo ano, sequer é citado.

Até a ONU embarcou na história e colocou a tragédia atual entre os dez maiores deslizamentos de terras do mundo nos últimos 111 anos.


Caraguatatuba

O ano de 1967 foi realmente atípico. Em março, dois meses após a tragédia da Serra das Araras, outro desastre atingiu Caraguatatuba, no litoral paulista.

Chovia quase todos os dias desde o início do ano (541mm só em janeiro, o dobro do normal). Do dia 17 para 18 de março, um temporal produziu quase200 mm de chuvas em um solo já encharcado.

No início da tarde de 18 de março, sábado, a tragédia aconteceu sob intenso temporal que chegou a acumular 580mm de chuvas em dois dias (Teresópolis teve 366mm em 12 dias).

Segundos os relatos da época, houve uma avalanche de lama, pedras, milhares de árvores inteiras e troncos que desceu das encostas da Serra do Mar, destruindo casas, ruas, estradas e até uma ponte. Cerca de 400 casas sumiram debaixo da lama. Mais de 3 mil pessoas ficaram desabrigadas (20% da população da época). O número de mortos - cerca de 400 - foi feito por estimativa, pois a maioria dos corpos foi soterrada ou arrastada para o mar.

Detalhe: Caraguatatuba, em 1967, era um balneário turístico de 15 mil habitantes. Dá para imaginar quais seriam as consequências se aquela tragédia ocorresse hoje, com os atuais 100 mil habitantes.


Por isso é sempre importante tomar cuidado com o que vemos, lemos ou ouvimos. Não cair no erro de fazer pré-julgamentos sobre algum acontecimento ou tomar partido de algo sem ao menos entender o que se passa. Os meios de comunicação podem ser extremamente úteis em nosso dia-a-dia, todavia temos que tomar muito cuidado pra não virarmos apenas um fantoche na mão do sistema. Para que de fato possamos decidir por nós mesmos. Ter uma opinião própria, ter ideais próprios, poder refletir e ter o direito de pensar. Tomem cuidado...

Um comentário:

  1. Professor Rogerdautry,

    Parabéns pela postagem, boas reflexões!
    Realmente os meios de comunicação tem a capacidade de transformar mentiras em verdades, basta repetir uma mentira várias vezes que ela acaba virando verdade, ainda mais pelo fato de nossa sociedade ser dinâmica e nosso dia a dia cheio de atividades o que acaba levando diversos acontecimentos ao esquecimento com o decorrer do tempo. É impressionante a capacidade dos meios de comunicação criarem "mocinhos" e "bandidos".

    Grande Abraço!

    ResponderExcluir